Estou sempre andando pela internet lendo e procurando sites interessantes. Outro dia entrei nesse site e achei bem legal, vi um texto que dei muita risada apesar de ser um tanto realista, aliás eu já pensei muito nisso e até tinha um livro que infelizmente emprestei e nunca me devolveram, que falava sobre o assunto de forma também muito legal, engraçada embora focando um assunto sério.
A autora do texto Adriana Valdoni tem um senso de humor bem especial, apesar de não conhece-la a parabenizo pelo excelente texto que tomo a liberdade de publicar aqui com os devidos créditos à ela 😉
A oradora do velório
Adriana Vandoni
Um tio me enviou um texto onde ele, tal Mario de Andrade em “Quando eu morrer quero ficar”, relata qual destino quer que seja dado ao seu corpo após a morte. Quer ser cremado e que suas as cinzas sejam distribuídas por Cuiabá. Imagine, ele quer ser cremado! Isso me fez lembrar certa vez que meu marido, muito consternado durante o enterro de um conhecido, disse a mim: “não esqueça, quero ser cremado”. Acontece que em Cuiabá não tem crematório, daí eu disse a ele: “meu bem, torce pra morrer carbonizado porque eu não vou pagar passagem pra defunto ser queimado em São Paulo”. Será que dá pra usar milhagem pra defunto???
O assunto pode até parecer mórbido, mas há tempos que penso no ritual que quero para o meu velório. Comecei a pensar nisso quando Orlando, um amigo muito sacana, contou que fez um trato com o irmão de que quando ele morrer, o irmão irá contratar uma garota de programa, daquelas bem apanhadas, para entrar no seu velório toda vestida de preto, com uma sai muito curta. A garota deverá parar ao lado do caixão, dar um discreto soluço, enxugar a lágrima com um lenço também preto, passar a mão suavemente em seu rosto e sair sem falar uma só palavra.
O objetivo? Irritar sua mulher pela última vez.
Ele contou isso e eu lá, escutando fascinada com a idéia. Mas avisei: Orlando, reza pra morrer depois de mim, porque senão eu vou contratar um travesti pra fazer o mesmo.
Eu acho uma tremenda sacanagem divina morrer antes de pelo menos 120 anos, mas enfim, já que é inevitável, que seja em grande estilo, afinal, morre-se apenas uma vez na vida, né não?
Por isso quero velório de dois dias, sem velas, a menos que sejam perfumadas. Cravo nem pensar, quero lírios. Todos brancos! Arranjos fartos de lírios brancos. Não quero em hipótese alguma coroa de flores. Gente, aquilo é um horror! Parece prêmio de vaca em concurso de peso. Pelamordedeus!!! Coroa não.
Quero que sejam servidos petiscos deliciosos com café, refrigerante e suco natural, mas tem que ser natural, porque não agüento ver nas funerárias aquele líquido que parece ki-suco aguado borbulhando com uma torneirinha embaixo.
Não, eu não quero uma festa, quero choro sim, afinal, eu estou indo. O momento deve ser de tristeza. Se houver falta de choro, que contratem carpideiras. Aquelas que choram em qualquer velório.
Ah, importantíssimo! Tem que ter música ambiente, triste, claro, pra fazer o clima. Nossa, fui uma vez num velório que tinha som ambiente, daí chamei meu marido de lado e disse: “quero igual”. Mas sem essa de tocar Funeral March de Chopin, essa música me lembra um funeral que o Jerry simulou para assustar o Tom.
E para fechar o velório com chave de ouro vem a hora principal: a reza. Este eu quero que seja um momento especial, por isso vou deixar o nome de quem eu quero que puxe a reza. Nem Deus há de permitir que eu vá antes dela, afinal, pela ordem natural da coisa…, mas se acontecer, quero que minha querida sogra, em pé ao lado do caixão, reze 15 salve-rainhas e cante a música: “segura na mão de Deus e vai!; segura na mão de Deus e vai!; segura na mão de Deus e vai!…”
Nossa será lindo. Será apoteótico.
Por que minha sogra? É que outro dia eu cheguei num velório e quando tentei entrar na sala onde estava o corpo, estava lotada, era hora da reza. Aquela sala quentíssima, abarrotada de gente, vi minha sogra lá bem ao lado do caixão. Passado uns quarenta minutos sai ela pingando de suor e eu comentei:
– Vi a senhora lá dentro, mas não deu pra eu entrar.
– Minha fiiilha, você pode com essa? Entrei bem na hora que começaram a rezar, a sala encheu e eu não consegui sair mais. O pior é que não sei rezar.
Então, tem esse detalhe que me fez escolher minha sogra como oradora do meu velório. Ela não é chegada em religião, sabe como é né?, foi interna num colégio de freira quando era mocinha e traumatizou, morre de rir por não saber uma só oração e quando vai acompanhar as amigas em tardes de novena, costuma dizer que vai só pra provar os quitutes.
Geeeente, fala sério, hein??? Já pensou? Ela ficará mal se não atender o último pedido de sua única e adorada nora, e não poderá descontar. De mestre!!! Não tem revide. Só no além! hahahaha
Site: www.prosaepolitica.com.br
😉
Sandra
